segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Ciência - HÁBITOS ALIMENTARES ESTÃO CAUSANDO O AUMENTO DE INCIDÊNCIA DE CÂNCER


***HÁBITOS ALIMENTARES ESTÃO CAUSANDO O AUMENTO DE INCIDÊNCIA DE CÂNCER*** 

Recente estudo publicado na revista The Lancet Oncology informa que novos casos de câncer devem aumentar 38,1% no Brasil ao longo desta década, passando de 366 mil casos diagnosticados em 2009 para mais de 500 mil novos casos em 2020. Várias podem ser as causas para esse aumento, mas as que mais se destacam são os fatores ambientais, dentre eles, destacam-se a alimentação e o estilo de vida da nossa população.

O relatório estima que o custo total com câncer em todos os países da América Latina chegou a US$ 4,5 bilhões em 2009 (cerca de um terço disso somente no Brasil), comparado com US$ 142,8 bilhões nos Estado Unidos, US$ 11,3 bilhões na Grã-Bretanha, US$ 30,8 bilhões no Japão, US$ 5,8 bilhões na China e US$ 656 milhões na Índia.

Quando considerado o tamanho da população, o custo médio por paciente na América do Sul foi calculado em US$ 7,92 (no Brasil, US$ 8,04). Nos Estados Unidos, os gastos por paciente foram de US$ 460,17, na Grã-Bretanha, de US$ 182,73 e no Japão, de US$ 243,7. A disparidade diminui quando esses gastos por paciente são analisados em relação ao PIB per capita de cada país, mas ainda assim, os custos por paciente considerando a porcentagem do PIB per capita, de 0,12% na América do Sul (0,11% no Brasil) ficam bem abaixo das proporções nos Estados Unidos (1,02%), no Japão (0,60%) e na Grã-Bretanha (0,51%).

Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo.

Devido a sua grande capacidade de multiplicação, essas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores (acúmulo de células cancerosas) ou neoplasias malignas. Por outro lado, um tumor benigno significa simplesmente uma massa localizada de células que se multiplicam vagarosamente e se assemelham ao seu tecido original, raramente constituindo um risco de vida.

Os diferentes tipos de câncer correspondem aos vários tipos de células do corpo. Por exemplo, existem diversos tipos de câncer de pele porque a pele é formada de mais de um tipo de célula. Se o câncer tem início em tecidos epiteliais como pele ou mucosas ele é denominado carcinoma. Se começa em tecidos conjuntivos como osso, músculo ou cartilagem é chamado de sarcoma.

Outras características que diferenciam os diversos tipos de câncer entre si são a velocidade de multiplicação das células e a capacidade de invadir tecidos e órgãos vizinhos ou distantes (metástases).

Nos últimos anos foi verificado aumento na incidência de câncer no aparelho digestório. Esses tumores juntos representam uma grande fração dos tumores humanos. São praticamente incuráveis quando se apresentam disseminados pelo organismo (metástases volumosas), daí a necessidade de um rastreamento precoce com o intuito de um diagnóstico da neoplasia na sua fase inicial, aumentando assim a possibilidade de cura e a melhoria da condição de sobrevida, quando a cura não é possível. Localizam-se no aparelho digestório: boca, esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso, colo, reto, pâncreas, fígado e vesícula biliar.

Em relação ao câncer de esôfago, embora a causa seja desconhecida, existem condições predisponentes bem definidas como: megaesôfago (aumento do diâmetro), acalasia (falta de relaxamento do esfíncter de transição esôfago-gástrico), esôfago de Barrett (esofagite de refluxo), injúria cáustica, divertículos e agentes infecciosos (papiloma vírus). O consumo excessivo do álcool e o hábito de fumar isoladamente aumentam o risco de desenvolver o câncer de esôfago e , quando associados, multiplicam-no. A dieta pobre em vitaminas, assim como a ingestão de compostos ricos em nitrato, contribuem para esse estímulo.

O câncer do estômago é mais comum nos homens, iniciando na faixa etária dos 40 anos e aumentando gradativamente, com o pico de incidência na sétima década de vida, sendo um pouco mais precoce nas mulheres. A dieta e os fatores ambientais estão fortemente relacionados com o câncer gástrico, sendo que existe uma forma relacionada com etiologia genética. A forma epidêmica do câncer gástrico evolui de lesões pré-cancerosas como a gastrite atrófica e a metaplasia intestinal. A infecção associada pelo Helicobacter pylori e a dieta rica em nitritos estimulam as lesões pré-cancerosas a progredir para o câncer.

A forma endêmica está mais presente nas mulheres e jovens, não estando relacionada com as lesões pré-cancerosas e sim com a ocorrência familiar (tipo sangüíneo A) sugestiva de uma etiologia genética. Estudos têm demonstrado a diminuição do risco para o câncer com a ingestão de vegetais crus, frutas cítricas e alimentos ricos em fibras. Já o aumento do risco pode ser notado na ingesta pobre de vitaminas A e C, carnes e peixes salgados, alto consumo de nitrato e baixo consumo de proteínas e gordura. Outros fatores são os ambientais como: má conservação dos alimentos (defumados / ausência de refrigeração), água de poço (alta concentração de nitrato), além do hábito de fumar e ingestão de bebidas alcóolicas. Existe ainda a comprovação de maior incidência na classe social mais baixa e em pacientes que foram previamente operados do estômago.

A relação da dieta e o risco do câncer coloretal é bem estabelecida. Sabidamente a ingestão aumentada de gordura saturada (proveniente da carne vermelha principalmente) aumenta o risco, ao passo que o óleo vegetal não apresenta nenhum efeito e o óleo proveniente do peixe (ômega-3) possui efeito protetor contra o câncer coloretal. Existe também relação com a quantidade de calorias ingeridas, sendo maior o risco em pessoas que comem mais. Já a ingestão de fibras vegetais é apresentada como um fator protetor. A fibra age promovendo uma maior velocidade de passagem do alimento dentro do intestino, diminuindo o tempo de contato entre as substâncias carcinógenas (que causam o câncer) encontradas nos alimentos e a parede intestinal. A dieta rica em cálcio e potássio possui um efeito protetor, enquanto que a ingestão de bebidas alcóolicas, quando exacerbada , aumenta o risco.

Recentes estudos têm demonstrado fatores etiológicos importantes para o câncer de pâncreas, dentre estes podemos destacar os fatores ambientais. Nos fatores ambientais, salienta-se o uso do cigarro, sendo este o mais bem definido fator etiológico entre outras classes para o câncer de pâncreas. O risco está diretamente relacionado com a quantidade e com o tempo de utilização do tabaco. O risco diminui em torno de 30%, em comparação aos não fumantes, após 10 anos sem fumar. 30% dos casos de câncer do pâncreas são atribuídos ao hábito de fumar. Outro importante fator ambiental é a dieta, em que está bem comprovado que a alta ingestão de gordura e carnes aumentam o risco, ao passo que a ingesta de frutas, vegetais, alimentos ricos em fibras e vitamina C reduz o risco. Existe um dilema em confirmar ou não a associação da ingestão exacerbada de bebidas alcóolicas e café com o aumento do risco para o desenvolvimento do câncer de pâncreas.

De modo geral, alguns tipos de alimentos, se consumidos regularmente durante longos períodos de tempo, parecem fornecer o tipo de ambiente que uma célula cancerosa necessita para crescer, se multiplicar e se disseminar. Esses alimentos devem ser evitados ou ingeridos com moderação. Neste grupo estão incluídos os alimentos ricos em gorduras, tais como carnes vermelhas, frituras, molhos com maionese, leite integral e derivados, bacon, presuntos, salsichas, linguiças, mortadelas, dentre outros. Existem também os alimentos que contêm níveis significativos de agentes cancerígenos. Por exemplo, os nitritos e nitratos usados para conservar alguns tipos de alimentos, como picles, salsichas e outros embutidos e alguns tipos de enlatados, se transformam em nitrosaminas no estômago. As nitrosaminas, que têm ação carcinogênica potente, são responsáveis pelos altos índices de câncer de estômago observados em populações que consomem alimentos com estas características de forma abundante e frequente. Já os defumados e churrascos são impregnados pelo alcatrão proveniente da fumaça do carvão, o mesmo encontrado na fumaça do cigarro e que tem ação carcinogênica conhecida.

O tipo de preparo do alimento também influencia no risco de câncer. É aconselhável adicionar menos sal na hora de fazer a comida, aumentando o uso de temperos como azeite, alho, cebola e salsa. A Organização Mundial da Saúde recomenda o consumo de até 5 g de sal ou 2 g de sódio por dia, ou seja, o equivalente a uma tampa de caneta cheia. Ao fritar, grelhar ou preparar carnes na brasa a temperaturas muito elevadas, podem ser criados compostos que aumentam o risco de câncer de estômago e coloretal. Por isso, métodos de cozimento que usam baixas temperaturas são escolhas mais saudáveis, como vapor, fervura, pochê, ensopado, guisado, cozido ou assado.

Nesse contexto, dê preferência para aos alimentos crus e cozidos. Outras dicas de alimentação podem ser obtidas em nosso site.

Busquem conhecimento!!

Profa. Dra. Paula Lima

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